a flor


Lá estava ela, sozinha.

Naquele lugar vazio, esquecida do mundo.

Para qualquer direção que ela olhasse, só via o nada.

Sentia-se largada.

Sentia-se desprezada.

Na imensidão daquele deserto sem areia,

Seu consolo era seu próprio perfume.

Narcisista, ela se deliciava com ele.

Mas como não ser, em um deserto de nada.

Há quem queria enganar?

Por mais que tentasse, não conseguia esconder.

Uma angustia culminava seu pequeno corpo.

Tão pequeno o corpo. Tão grande o fardo.

Ela era sozinha.

Ali, no meio da imensidão vazia que estava.

Recolhida em seu pequeno universo particular,

Conseguia exalar o mais doce perfume.

O da pureza.

A inocência de sua alma era sentida no ar.

Sem ter nada ao redor, era a esperança que a mantinha viva.

Seus espinhos armados em defesa.

Mas se defender do que? De quem?

Naquele nada onde jazia somente ela podia se ferir.

Conflitos.

A vontade de acreditar no amanha,

Travava uma sangrenta batalha com a solidão.

Inconsciente de si.

Longe de saber o veneno que brotava de dentro,

Manteve-se refém de seu perfume.

Sem perceber, alimentou a solidão.

O veneno brotou.

Seus espinhos agora apontavam para si.

Ela era sua maior inimiga.

Desacreditou no nascer de um novo dia.

Firmou-se na solidão.

As pétalas já não eram brancas e puras.

O vermelho tomou conta.

O vermelho da dor. Da solidão.

Sem perceber, o veneno tomou seu corpo.

Ai daquele pequeno corpo que não agüentou.

Sucumbiu ao perfume doce da inocência e atrofiou.

Naquele deserto de nada, jazia uma flor.

Um dia formosa.

Semblante pomposo e com perfume doce.

Perfume que cativaria o mundo.

O mundo que ela ainda iria ver.

A solidão um dia passageira enganou a pobre flor.

Desistente da vida, ela se entregará.

Mal sabia ela, que tudo na vida é aprendizado.

O que era dela por direito, ainda chegaria.

O dia em que o mundo conheceria seu perfume.

Aquele puro. Aquele inocente.

Fraca. Humana.

A flor hoje não exala perfume algum.

Carrega a solidão de si, para qualquer canto.

Mesmo o mais determinado beija-flor não conseguiria extrair gota alguma de pólem.

E naquele deserto de nada, ela reina solitária.

Morta por seu próprio veneno.

Morta e sozinha dentro de si



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autor: Rafael Schimanski

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